Popular até nas redes sociais, Filosofia ajuda a responder questões levantadas na crise do novo coronavírus
Em um mundo encoberto por sombras da Covid-19, o que tem levado mais e mais pessoas a participar de cursos , grupos de leitura e rodas de discussão (tudo on line, por exigência do isolamento social) sobre Filosofia, “o amor pela sabedoria”, na definição de Pitágoras, “experimentado apenas pelo ser humano consciente de sua própria ignorância”?
Por ser a Filosofia a busca constante do conhecimento e a fuga do comodismo, o que explica a popularização dos seus temas até mesmo em redes sociais – #filosofia está em 1,6 milhão, e #philosophy em 4,3 milhoes de publicações no Instagram – antes limitados a ambientes acadêmicos e intelectualmente elitizados?
Doutoranda em Filosofia pela PUC-Rio, mestre e licenciada em Filosofia pela UFRRJ, Iasmin Martins, diz que as pessoas procuram a Filosofia porque “as crises nos levam à angústia e a quebras dos padrões automáticos de comportamento, nos fazendo repensar as condições de possibilidade da nossa existência”.
“Somos os únicos seres capazes de perceber a própria finitude, ter consciência da sua morte. Então, recorremos ao pensamento filosófico por nos proporcionar uma reflexão mais profunda e possíveis caminhos para os nossos questionamentos, sem deixar de considerar a própria consolacão que a filosofia poderia nos oferecer diante das nossas dores e indagações ou até mesmo possibilitar a afirmação da vida, ainda que ela seja trágica”, diz Iasmin, que em maio ministra o curso on line “Schopenhauer e Nietzsche” na Casa do Saber Rio.
Renato Nogueira, Professor dos Programas de Pós-Graduação em Educação e em Filosofia da UFRRJ e doutor pela UFRJ, diz que a convergência entre a crise do novo coronavírus e as discussões filosóficas terá reflexos em mudanças internas e externas, coletivas e, principalmente, individuais.
“Diante de uma crise, isto é, de um momento que exige o nosso julgamento, e sem elementos suficientes para fazer qualquer juízo, a Filosofia tem algo a nos dizer. Por essa razão, se justifica a busca pela Filosofia em tempos de crise. Não porque dê uma explicação reconfortante sobre a realidade ou respostas que acabem com o sofrimento. Não se trata de uma solução ou salvação religiosa, tampouco de uma vacina científica nem de um gozo estético. Filosofia não é religião, não é ciência e não é arte. Diante de uma crise, a Filosofia nos convida tanto para reflexão como para inflexão. Refletir é um convite a revisitar o que já foi visto. A inflexão convoca para uma mudança de olhar, encarar o que não observamos à primeira vista. Se trata de uma mudança de direção e de sentido”, analisa Nogueira, que em maio ministra na Casa do Saber Rio o curso on line “O coronavírus de hoje e o mundo de amanhã “.